O quarto episódio de “O Teatro das Tesouras” retrata a eleição presidencial de 2002, que culminou na primeira vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após três tentativas. O documentário destaca a transformação de Lula, que abandona o radicalismo das campanhas anteriores e adota uma postura mais moderada, orquestrada pelo marqueteiro Duda Mendonça.

Após as derrotas em 1989, 1994 e 1998, o PT percebe a necessidade de se reinventar para conquistar a presidência. Duda Mendonça é contratado para remodelar a imagem de Lula, suavizando suas propostas e aproximando-o da elite empresarial. O “Lula revolucionário” dá lugar ao “Lulinha paz e amor”, um candidato mais conciliador e palatável para o eleitorado.

Essa mudança estratégica inclui a construção de alianças, a moderação do discurso e até mesmo a mudança no visual de Lula, que abandona a barba e adota um estilo mais formal. Para tranquilizar o mercado, Lula escreve a “Carta aos Brasileiros”, prometendo respeitar os contratos firmados pelo país e dialogar com o setor empresarial.

Enquanto Lula se consolida como o favorito para o segundo turno, a disputa pela segunda vaga se acirra entre José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB). O documentário apresenta essa disputa como uma série de “ondas” que desafiam a candidatura de Serra, o candidato do governo.

• A primeira onda é Roseana Sarney, que desponta nas pesquisas, mas desiste da candidatura após a Polícia Federal apreender dinheiro em sua empresa, levantando suspeitas de caixa 2.
• A segunda onda é Ciro Gomes, que cresce nas pesquisas com um discurso populista e sua relação com a atriz Patrícia Pillar atraindo a atenção da mídia. Serra, no entanto, consegue reverter a ascensão de Ciro explorando seu temperamento explosivo e expondo suas contradições.
• A terceira onda é Anthony Garotinho, então governador do Rio de Janeiro, que se lança na corrida presidencial e, mesmo com pouca cobertura na mídia, conquista 18% dos votos no primeiro turno.

A vitória de Serra no primeiro turno garante a esperada disputa com Lula no segundo turno. O PSDB tenta desconstruir a imagem moderada de Lula, relembrando seu passado radical e alertando para os riscos de um governo petista. A campanha de Serra explora o medo da volta da inflação e da instabilidade econômica, utilizando o “lulômetro” – criado pelo banco Goldman Sachs – para projetar a alta do dólar caso Lula seja eleito.

Apesar dos ataques, a estratégia de moderação de Lula se mostra eficaz. Ele se apresenta como o candidato da mudança, capaz de unir o país e superar as crises. No dia 27 de outubro de 2002, Lula é eleito presidente com 61% dos votos, consolidando a ascensão do PT ao poder.

O documentário finaliza o episódio apontando para a ironia da vitória de Lula, que conquistou a presidência com um discurso moderado, mas, segundo o documentário, abriria caminho para a “máfia petista” se instalar no poder. A transformação de Lula é apresentada como uma estratégia de marketing bem sucedida, mas que escondia as reais intenções do PT.